quarta-feira, 27 de março de 2013

De 4 Poemas Não Sobrou Ninguém



Nos dias atuais, damos pouco valores as fontes, origens e créditos. Mas quando fazemos uma pesquisa mais profunda, a coisa fica mais interessante. Saber a origem de um poema, uma foto, filme ou vídeo, torna as coisas mais interessantes e te traz uma visão diferente.


Pois bem, venho tratar de um poema, o qual vejo nas redes sociais há 2 anos e até hoje, não se sabe quem foi o autor. Pesquisando na Internet, encontre neste site: http://www.history.ucsb.edu/faculty/marcuse/niem.htm (Inglês) explicando que o verdadeiro autor é Martin Niemöller. O poema que veio a ser chamado de "E não sobrou ninguém" é referente a um sermão dele, após ter saído do campo de concentração.

Martin Niemöller, pastor luterano alemão, que foi contra ao nazismo e preso várias vezes até ser levado para campos de concentração. Abaixo o poema.

Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. 
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. 
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. 
Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. 
Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse.
E NÃO SOBROU NINGUÉM, Martin Niemöller


O outro poema citado, faz referência à Bertolt Brecht, e é uma das adaptações feitas ao poema. Segue abaixo:

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
INTERTEXTO, Bertolt Brecht

O 3º é causa de grande confusão. Dizem que é do Vladimir Mayakovsky mas na verdade, o criador é o Brasileiro Eduardo Alves da Costa (Foto à Direita), a confusão se deve pelo título do poema, "No Caminho, com Maiakóvski".


Na primeira noite eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim e não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão e não dizemos nada. 
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. 
E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada. 
NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI,
Eduardo Alves da Costa


O 4º, é o mais recente, vi hoje e mostra como esse poema tem uma alma, que pode ser adaptado para qualquer geração e que, o sentimento de solidão e desamparo é sempre atual. Segue o poema de Cláudio Humberto, que vou deixar sem foto, pois não achei uma foto dele sem bigode.

Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima;
Depois incendiaram os onibus, mas eu não estava neles;
Depois fecharam as ruas, onde eu não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho…
O RIO CHORA, Cláudio Humberto

E para encerrar o texto em alto astral, cito um 5º poema, dentro do contexto e que dá um basta aos 4 poemas anteriores e poem a mão na massa para fazer a diferença.

Não preciso ser negro para lutar contra o racismo.
Não preciso ser mulher para lutar contra o machismo mortal de todos os dias.
Não preciso ser criança para lutar contra a pedofilia e a violência sexual, mas preciso reaprender minha infância para brincar de novo.
Não preciso ler a bíblia, o corão ou o torá para saber o que é certo ou errado.
Não preciso ter sido expulso do campo para lutar pela reforma agrária e apoiar incondicionalmente o MST.
Não preciso morar numa favela à beira de um rio morto para lutar por moradia digna.
Não preciso ficar doente para lutar por saúde digna.
Não preciso ser igual para lutar por aqueles que são diferentes.
Não preciso estar morto para defender a vida.
Não preciso ser gay para lutar pelo povo LGTB.
Preciso, apenas, da minha lucidez alucinada.
Deito com minha loucura serenada pelo cansaço de quem tenta, e tenta e não desiste.
Sempre vale apena.
Meus filhos e netos precisam disso.
É o que posso.
É o que tenho.
É o que dou.
POEMA DAS NECESSIDADES, Paulo R. Cequinel

4 comentários:

  1. Obrigada pelos inestimáveis esclarecimentos. O 5º é igualmente muito belo

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  2. Tem uma música também, se chama "E não sobrou ninguém" dos Vespas Mandarinas

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  3. A banda portuguesa Linda Martini tem uma canção intitulada "E não sobrou ninguém" e inspirada no poema de Martin Niemoller.
    https://www.youtube.com/watch?v=JdOzmnOfJ_A

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